No Brasil a caça passou por altos e baixos. Ora ela era liberada, ora ela era proibida. Porém, foi na constituição de 1988, que a caça se torna um crime inafiançável (Lei 7653/88). Entretanto, com a lei nº 9605 de 1998, abre-se uma ressalva para a caça de subsistência; famosamente utilizada para a alimentação de famílias, quando não há outros recursos.
Teoricamente, existem dois tipos de caça, a caça profissional e sanguinária e a caça não predatória; que abrange a caça de controle, de subsistência e a amadorista ou esportiva.
Quero destacar em específico a caça amadorista/ esportiva. Já que, essa na prática, afinal, não me parece e nem se encaixa no que se chama caça esportiva. Visto que, esses grupos de pessoas ou “esportistas”, como gostam de ser chamados, caçam aquilo que bem lhe convém e abate de maneira cruel, apenas pelo acúmulo do que chamam de troféu. Nessa atividade, não existe respeito; pois muitos animais não são nem aproveitados (seja para doações para museus de plastinação ou doados a universidades para laboratórios de anatomia animal).
Os apoiadores dessa prática, afirmam que estão ajudando na preservação da natureza, alegam que, os fundos arrecadados são direcionados para o investimento em instituições de conservação. No entanto, o controle de registro dessas “doações/ investimentos”, necessariamente são fiscalizados; deixando uma grande desconfiança de possíveis “falcatruas”. Ou seja, a ideia de preservação atrelada a caça esportiva, não passa de um a desculpa para atacar a fauna silvestre e engordar os bolsos dos verdadeiros interessados, as “agências de esportes”.
Além disso, em lugares onde a caça esportiva é legalizada, como na África por exemplo; não há indícios de aumento de populações das espécies caçadas. Muito pelo contrário, há quedas avassaladoras no número de indivíduos. O que evidencia que a caça esportiva não ajuda em nada, apenas agrava.
Entretanto, dada diversas provas de que a caça não é uma forma de preservação; pessoas insistem em alegar que houve um aumento nas populações de animais e afirmam categoricamente que as leis ambientais do Brasil têm contribuído para isso. Inferem isso sob a justificativa de que anos atrás os animais não atacavam suas propriedades e que atualmente os ataques a plantações e animais domésticos aumentou muito.
O que na verdade não é justificativa de que está sendo preservado, não passando apenas de simples ilusão; pois, apesar do Brasil está munido de leis federais, estuais e municipais; que asseguram a preservação da fauna e da flora, visando o equilíbrio ecológico. O que vemos através dos meios de comunicação, são expressivos aumento de desmatamento, tráfico de animais e caça ilegal. Conjunto esse, que vem causando desequilíbrio ecológico dentro de matas e florestas.
Não é necessário ser um mestre em conservação ambiental, para notar que as constantes visitas de carnívoros e herbívoros em propriedades rurais, está diretamente ligada ao desequilíbrio do habitat, dos mesmos; como a falta de predador natural e principalmente a indisponibilidade de recursos alimentícios. Tudo isso porque, temos lei, mas existe uma dificuldade de cumprir e fiscalizar.
Enfim, acredito que a caça se faz eficaz sim, quando esta for exclusivamente utilizada para fins de controle de espécies invasoras ou exóticas, que colocam em risco os habitats naturais e as plantações agrícolas. Agora, vender uma ideia de que a caça esportiva ajuda na preservação. É extremamente errôneo e antiético; visto que, proporciona a desinformação em leigos(as). Além, de ser um ato cruel não justificável.
Por tanto, existem inúmeras formas de aliar preservação e receita para determinado local. Como, por exemplo o ecoturismo. Setor em amplo desenvolvimento e aceitação no Brasil.
REFERÊNCIAS
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