A problemática do esgotamento sanitário surgiu desde o momento em que o homem deixa de ser nômade e passa a se fixar em um local para formar comunidades. Na idade antiga algumas Cidades-Estados como: Roma, Grécia e Egito; já possuíam conhecimento que ao jogar lixo nas águas estariam prejudicando todos com a disseminação de doenças.
Então, para resolver o problema, alguns, evitavam jogar suas fezes nos rios. Porém, foi na antiga Babilônia que foram encontrados os primeiros registros de galerias de esgoto. Mas, infelizmente, foi na Idade Média que toda a mentalidade de não poluição dos rios deixou de ser uma prioridade. Com isso, só no século dezoito na França, foi criada as primeiras leis registradas que visavam o combate à poluição hídrica.
Já no Brasil a preocupação com os recursos hídricos chegou tardia… e apesar de atualmente existirem leis que assegurem o tratamento de esgoto no país; grades centros urbanos, principalmente em regiões carentes, continuam despejando seus efluentes em rios e córregos. Segundo o censo do IBGE do ano de 2016; dos 69,2 milhões de domicílios do país, 23,6 milhões (34%) não estão conectados à rede geral de esgotamento sanitário. Isso quer dizer que há muita matéria orgânica sendo descartada de maneira irregular, matéria orgânica essa que polui os efluentes brasileiro fazendo com que a quantidade de resíduos extrapole os parâmetros que permitem que a água faça a autodepuração.
A autodepuração, em síntese, nada mais é do que a capacidade que um corpo hídrico tem de “se limpar” ao longo de seu percurso; porém, para isso a natureza precisa de tempo e a quantidade de esgoto diluído não pode ser maior do que a quantidade de efluente que o rio suporta. Existem fases, para que ocorra a autodepuração. Primeiramente, segundo Sperling, existe a zona de águas limpas; momento que antecede o lançamento do esgoto, até que a ação ocorra. Neste momento a fauna e flora aquática já começa a sentir os primeiros efeitos da poluição, pois a quantidade de organismos anaeróbicos, e consequentemente o aumento de gás carbônico, reduz a quantidade de oxigênio na água, podendo levar a morte de indivíduos mais sensíveis e a água já começa a ficar fétida.
Na zona de decomposição ativa os microrganismos iniciam a fase de decomposição da matéria orgânica, a qualidade hídrica está em seu estado mais deteriorado. A água continua turva e ainda há deposito de lodo escuro no fundo.
O oxigênio nesta fase está em menores quantidades, já que houve um aumento considerável de bactérias aeróbicas. Com esse consumo exacerbado de oxigênio também é possível que tenha um aumento de bactérias anaeróbicas e protozoários. Por hora, a quantidade de espécies que conseguem viver em tais condições, permanece bem limitado.
Quando se inicia a zona de recuperação, a água se apresenta mais clara, já não há mais mal cheiro, a matéria orgânica torna-se estabilizada (transforma-se em componentes inertes). O teor de oxigênio começa a voltar ao normal. Componentes como amônia e fósforos são transformados em nitratos e fosfatos, nessa ordem; com isso, ocorre uma fertilização do meio podendo favorecer o aparecimento de algas. Tornado o ambiente mais oxigenado e propício a uma diversificação da cadeia alimentar.
E por fim, chega-se na zona de águas limpas, que é quando finalmente o ambiente aquático volta ao seu estado primário antes da poluição, embora no fundo o lodo não esteja necessariamente estabilizado. Porém pela carga de minerais recebida na etapa anterior, as algas podem estar em maiores quantidades. Mas a diversidade de espécies é grande, o ecossistema está estável e a comunidade atinge novamente seu clímax.
O processo de autodepuração das águas é um processo comum para o restabelecimento do ecossistema aquático. Além disso ele causa o que chamamos de seleção natural, muito importante para a evolução das espécies.
Mas é claro que com o crescimento desordenado do homem esse fenômeno natural foi agravado pela ação humana tornado boa parte dos rios poluídos, pois estes já não conseguem voltar ao seu ponto de equilíbrio.
Por isso, é de grande importância o conhecimento do fenômeno de autodepuração e da sua qualificação. De acordo com Marcos Von Sperling, com esse conhecimento devemos ter em vista dois objetivos, primeiro utilizar a capacidade de assimilação dos rios; em outras palavras é perceber o quanto despejo de esgoto um curso de água tolera sem que todo o seu ecossistema entre em colapso; segundo é impedir o lançamento de despejos acima do que possa suportar o corpo d’agua.
Referências bibliográficas
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VON SPERLING, marcos. Princípios do tratamento biológico de águas residuárias: introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos.2ºedição revisada. Belo Horizonte: departamento de engenharia sanitária e ambiental, 1996.